domingo, 9 de maio de 2010

Onde estudar Egiptologia no Brasil?

Frequentemente sou indagada a respeito de onde estudar Egiptologia no Brasil. Apesar de usarmos o termo "egiptologia", este não é, no Brasil, um campo de estudos constituído, como ocorre no exterior. Não há uma faculdade nem cursos de pós-graduação específicos em Egiptologia em nosso país. Como fazer, então, para se tornar um especialista na área? Não é fácil, mas também não é impossível.
As opções são, sim, escassas, e ainda estamos há anos-luz de distância dos europeus e norte-americanos. Há dificuldades relacionadas ao acesso a materiais de estudo - a esmagadora maioria dos livros e periódicos tem que ser importada, o que leva a uma outra questão: aquele que pretende se especializar em Egito Antigo deve, imperativamente, ter conhecimento de uma língua estrangeira, de preferência inglês e/ou francês. O alemão também é uma ferramenta importante. Estudar a língua dos egípcios antigos (que possui vários estágios) é uma tarefa praticamente impossível de ser feita sozinho e somente a Universidade Federal Fluminense, em Niterói, oferece curso básico de egípcio médio e, mesmo assim, somente para a pós-graduação.
Apesar das dificuldades, o número de especialistas em Egito antigo vem aumentando nos últimos anos, e já é possível encontrar produções de qualidade sobre variados aspectos dessa civilização tão fascinante.
O caminho das pedras inicia-se, geralmente, através de uma graduação em História ou Arqueologia. Nesse caso, o estudante pode voltar sua formação (caso exista essa possibilidade na instituição da qual faz parte) para disciplinas optativas de História Antiga. Infelizmente, a maioria das universidades não oferece disciplinas específicas sobre Egito Antigo, salvo exceções, como a Universidade Federal Fluminense e a PUC do Rio Grande do Sul. Eu mesma enfrentei esse problema já que, onde cursei a graduação em História (UFPR), não havia especialistas em Oriente Antigo. Como meu interesse no Egito antigo sempre foi muito forte, a solução foi buscar por conta própria bibliografia sobre o tema e contatar profissionais que já haviam terminado pós-graduação na área para pedir sugestões iniciais de leitura.
Após a graduação, a saída é procurar um mestrado/doutorado. Conforme dito anteriormente, não há nenhum curso específico em Egiptologia, mas há cursos que oferecem disciplinas na área, permitindo que os estudantes possam aperfeiçoar a sua formação. As opções se concentram no eixo Rio-São Paulo:

Rio de Janeiro:

- Museu Nacional do Rio de Janeiro (UFRJ): Sob a orientação do Professor Antônio Brancaglion Jr., é possível realizar um mestrado em Arqueologia, com ênfase em Arqueologia Egípcia.

- Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ): Coordenado pela professora Maria Regina Cândido, o Núcleo de Estudos de História Antiga (NEA), oferece periodicamente cursos de especialização em História Antiga.

Niterói:

- Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (UFF): a universidade conta com o Professor Ciro Flamarion Cardoso, renomado especialista em Egito Antigo, e é a única a oferecer curso de língua egípcia (egípcio médio) em sua grade de disciplinas.

São Paulo:

- Universidade de Campinas (UNICAMP): O professor Pedro Paulo Funari, especialista em Roma, orienta estudos sobre Egito greco-romano na linha de História Cultural.

- Universidade de São Paulo (USP): Nessa universidade, há a possibilidade de realizar uma pós-graduação em História ou, então, em Arqueologia. Na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, o assiriólogo Marcelo Rede orienta trabalhos na área de História Antiga. A especialização em Arqueologia pode ser feita no MAE (Museu de Arqueologia e Etnografia) onde, inclusive, há uma coleção egípcia, com peças originais.

Curitiba:

- O professor Moacir Elias Santos oferece, periodicamente, curso de pós-graduação (especialização) em História Antiga.

Porto Alegre:

- Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS): nessa universidade é possível realizar pós-graduação em Egiptomania (usos e re-interpretações de traços da cultura egípcia antiga no mundo moderno e contemporâneo) sob a orientação da Professora Margareth Bakos.


*No artigo a seguir, o professor Ciro Flamarion Cardoso esclarece mais alguns aspectos relacionados à carreira de egiptólogo no Brasil: http://portalcienciaevida.uol.com.br/ESL

Quem são os egiptólogos brasileiros?

ANTÔNIO BRANCAGLION JUNIOR - Professor adjunto II da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador visitante no Institut Française d'Archeologie Orientale du Caire. Tem experiência na área de Arqueologia, com ênfase em Arte Egípcia, atuando principalmente nos seguintes temas: egito antigo, arqueologia egípcia, crenças funerárias egípcias, arte egípcia e egiptologia. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4799485P6

CÍNTIA ALFIERI GAMA- Mestre em Arqueologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2008). Atualmente realiza um doutorado na EPHE - Sorbonne e é professora das Faculdades Metropolitanas Unidas. Tem experiência na área de História e arqueologia, tendo participado de diversas escavações no Egito. Atuando principalmente nos seguintes temas: história antiga, egiptologia, religião, história e arqueologia. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4762862D5

CIRO FLAMARION SANTANA CARDOSO - Atualmente é professor titular da Universidade Federal Fluminense. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Antiga e Medieval, principalmente em Egiptologia.http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4783591

EVELYNE AZEVEDO - Mestre em História pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente trabalha como professora substituta do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de História, com ênfase em História da Arte, atuando principalmente nos seguintes temas: Egito e cultura italiana. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4735613E0

FÁBIO FRIZZO - Mestre em História Antiga pela Universidade Federal Fluminense, onde realizou pesquisa sobre o imperialismo egípcio no Reino Novo. É professor de História na Universidade Veiga de Almeida, em Cabo Frio. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4711544U9


GISELA CHAPOT - Mestre em História pela Universidade Federal Fluminense (2007). Tem experiência na área de História, com ênfase em Egiptologia, atuando principalmente nos seguintes temas: religião egípcia antiga, especialmente durante a reforma de Amarna (1353-1335 a.C.). http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4130049Y6


HAYDÉE OLIVEIRA - Doutora em História Antiga pela Universidade Federal Fluminense. No momento atua como funcionária do Programa em Pós Graduação em História da Universidade Federal Fluminense, cuidando da área de informática. É também pesquisadora do Centro de Estudos Interdisciplinarares da Antiguidade na área de Egito Antigo. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4797548A1


JÚLIO CÉSAR DE MENDONÇA GRALHA - Mestre em História Social pela Universidade Federal Fluminense (2000) com trabalho na área de História Antiga - Egiptologia. Doutor em História Cultural pela UNICAMP, onde realizou pesquisa sobre o Egito greco-romano. Professor colaborador do Núcleo de Estudos da Antiguidade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro . Tem experiência na área de História, com ênfase em História Antiga, História Medieval e História do Rio de Janeiro, atuando principalmente nas seguintes áreas: Egito antigo, Egiptologia, Egiptosofia, Egiptomania, Egito Ptolomaico e Romano, História Antiga, Arqueologia Cognitiva, religião, poder, legitmidade, iconografia, práticas culturais na antiguidade e no Rio de Janeiro. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4772593P5

LILIANE CRISTINA COELHO - Mestre em História Antiga pela Universidade Federal Fluminense. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Antiga e Medieval, atuando principalmente nos seguintes temas: Egito Antigo, Egiptologia, Reino Médio, Kahun (Lahun), Uso dos Espaços e Egiptomania.http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4769168J1

LUÍS EDUARDO LOBIANCO - Doutor em História Antiga pela Universidade Federal Fluminense, onde defendeu a tese intitulada "A Romanização no Egito: Direito e Religião (séculos I a.C. - III d.C.)". Atualmente é Professor Adjunto de História Antiga e Medieval da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4768266A9

MARGARETH MARCHIORI BAKOS - Professora adjunta da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Em 1988/89 passou a desenvolver estudos sobre egiptologia e, em 1995, com apoio de Bolsa Produtividade do CNPq, iniciou uma pesquisa sobre o tema Egiptomania no Brasil.http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4783506U6

MARIA THEREZA DAVID JOÃO - Mestre em História Antiga pela Universidade Federal Fluminense, com pesquisa em Egito antigo. Seus principais interesses são: religião funerária, Primeiro Período Intermediário e ideologia monárquica no Egito antigo. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4735374J0

MARINA BUFFA CÉSAR - Mestre em Arqueologia pelo Museu Nacional (UFRJ) onde desenvolveu a pesquisa "O Escaravelho-Coração nas Práticas e Rituais Funerários do Antigo Egito". http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4744660P2

MAURÍCIO ELVIS SCHNEIDER - Doutor em Arqueologia pela Universidade de São Paulo. Pesquisador em ênfase no período Saíta. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4231881P8

MOACIR ELIAS SANTOS - Atualmente é doutorando em História Antiga (Egiptologia) pela Universidade Federal Fluminense. Atuou como professor e pesquisador do Centro Universitário Campos de Andrade. Tem experiência na área de História, atuando principalmente nos seguintes temas: História Antiga, Egiptologia, Arqueologia e Egiptomania. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4769494U6

NELY FEITOZA ARRAES - Atualmente é doutoranda da Universidade Federal Fluminense (UFF). Tem experiência na área de História, com ênfase em Egiptologia, atuando principalmente nos seguintes temas: ideologia, escravidão, didática, teoria e história e antiguidade oriental e clássica.http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4723507P6

REGINA COELI - Mestre em Arqueologia pelo Museu Nacional (UFRJ). Desenvolve pesquisas sobre o período amarniano.







Boas Vindas


Escrever um blog sobre Egiptologia e temas relacionados ao Egito antigo sempre foi uma vontade que alimentei. Como não domino muito as ferramentas virtuais, essa vontade sempre foi deixada de lado, temendo que o blog não ficasse esteticamente a contento ou que o conteúdo não interessasse a ninguém. Ultimamente, contudo, tenho conversado muito com pesquisadores, acadêmicos e amadores interessados na Egiptologia e que reclamam da dificuldade em encontrar material sobre o tema, principalmente relacionado à produção nacional nessa área, já que os especialistas parecem guardar suas pesquisas para si ou divulgá-las somente em um circuito muito restrito.
O grande “empurrão” veio de Márcia Jamille, arqueóloga de Aracaju que se dedica à pesquisa em Egito antigo e mantém um blog bastante ativo (www.arqueologiaegipcia.com.br) com uma série de informações para aqueles que pretendem se manter a par das últimas novidades da Egiptologia. Em seu twitter, ela deu o ultimato: “Egiptólogos! Façam um blog!” e eu, que já alimentava essa idéia e, agora, dois anos após ter concluído um mestrado na área, achei que já era mesmo a hora.
Esse espaço será destinado a compartilhar o que aprendi, durante minha trajetória acadêmica, sobre o maravilhoso universo dos egípcios antigos, e desejo fortemente que possa ser, também, um local de integração entre os pesquisadores da área, advindos das mais diversas formações (História, Arqueologia, Antropologia, Linguística e assim por diante), e também um motivador para aqueles que desejam iniciar seus estudos sobre o tema mas que, por diversas razões (medo, dificuldade de acesso a materiais), não o fazem. Todos os interessados na cultura egípcia antiga serão bem-vindos, e aguardo seus comentários, críticas e sugestões, afim de darmos maior visibilidade à produção egiptológica no Brasil, fora do austero ambiente acadêmico, para que se cumpra também um papel de divulgação frente ao público em geral.
Um grande abraço a todos! Ankh wedja seneb!